Quem é Larry Page?
Se você chegou até este texto é porque tem curiosidade em saber mais sobre Larry Page. Não apenas um perfil da vida dele, mas o que fez esse engenheiro americano de 46 anos a criar o Google, a porta de entrada mais famosa da internet e responsável por transformar a maneira como cada um de nós tem acesso à informação no século 21.
Pode parecer exagero, mas não é. Muito além do endereço Google.com, Lawrence Edward Page foi um dos responsáveis por criar e investir em uma gama tão grande de produtos que torna-se praticamente impossível usar a internet hoje em dia sem utilizar uma de suas criações (ou aquisições). Não é à toa que Larry Page é considerado um dos dez homens mais ricos do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 54,9 bilhões, segundo o ranking da revista Forbes.
Mas, ainda que o culto à personalidade possa sugerir o sucesso da criação a apenas uma pessoa, Larry Page não fez tudo sozinho. Para entender como um dos homens mais geniais (e ricos!) da sua geração chegou lá é preciso conhecer as influências e decisões que forjaram a trajetória de Page.
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Família e formação de Larry Page
Lawrence Edward Page nasceu em 26 de março de 1973 em East Lansing, Michigan. Descendente de judeus, Page não parece ter herdado a devoção por nenhuma religião. Em compensação, carregou o apreço de seus pais pela tecnologia.
Enquanto sua mãe, Gloria Page, foi instrutora de programação de computadores no Lyman Briggs College e na Michigan State University, seu pai, Carl Victor Page, obteve PhD em ciência da computação pela Michigan University e foi professor de ciência da computação também na Michigan State University. Com esse contexto familiar, o próprio Larry Page declarou que, durante sua infância, sua casa “geralmente era uma bagunça, com computadores e revistas de ciência e tecnologia espalhadas”, um ambiente no qual ele adorava mergulhar por horas. Prova disso é que ele mesmo escreveu na carta de fundadores do Google, em 2013, que se lembra “de gastar muito tempo debruçado sobre livros e revistas” nessa fase.
A criação de Page ainda seria responsável por mais uma influência na vida do futuro inventor do Google: a música. O jovem Page tocou flauta e estudou composição musical enquanto crescia, chegando inclusive a participar do renomado acampamento de verão de música “Interlochen Arts Camps”, em Interlochen, Michigan. Anos depois, Page mencionou que a formação musical inspirou sua impaciência e obsessão pela velocidade na computação. “De certa forma, sinto que o treinamento musical levou ao legado de alta velocidade do Google para mim.” Em outra entrevista, declarou também que “na música, você é muito consciente do tempo. O tempo é como a coisa principal” e “se você pensar sobre isso do ponto de vista musical, tudo acontece em frações de segundo”.
Já no que tange à educação formal, Larry Page frequentou a Okemos Montessori School por quatro anos até se transferir para a East Lansing High School, onde se graduou em 1991, antes de ingressar na Universidade de Michigan para estudar engenharia da computação.
Após a formação, Page saiu de Michigan e foi para a Califórnia buscar seu PhD em ciência da computação na Universidade Stanford. Curiosamente é lá que, a partir de um tópico de dissertação de mestrado, em dupla com seu colega de turma Sergey Brin, nasce a ideia de um milhão de dólares (na verdade, de US$ 48,5 bilhões): o Google.
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Larry Page: criação e condução do Google
Originalmente chamado de BlackRub, o precursor do Google era um mecanismo de busca que desde o início já se mostrou superior aos existentes devido, sobretudo, ao algoritmo desenvolvido por Page e Brin chamado de “PageRank”. O excelente desempenho do BlackRub fez com que os próprios orientadores estimulassem o desenvolvimento do buscador pela dupla.
Os dois colegas de turma seguiram o conselho e começaram a transformar o BlackRub em um mecanismo de busca mais sofisticado, convertendo o dormitório de Page em um pequeno laboratório. Nessa mesma época, Larry e Sergey renomearam o buscador para Google, por conta de um erro ortográfico do número googol (10¹ºº) que representava a grande quantidade de dados que o mecanismo pretendia explorar. Já com a nova nomenclatura, o Google foi lançado de maneira restrita em agosto de 1996.
Nessa ocasião, o Google ainda estava hospedado no site de Stanford sob o domínio google.stanford.edu, mas a grande quantidade de acessos fez com que o buscador chegasse a ocupar metade da largura de banda de rede da universidade. Assim, em setembro de 1997, Page e Brin mudaram o endereço digital para seu próprio domínio e, um ano depois, mudaram também de endereço físico, fixando-se na famosa garagem de amigos em Menlo Park.
Os recursos limitados de Page e Brin, à época, acabaram se transformando em um diferencial. A página inicial visualmente simples e intuitiva do Google foi criada graças ao conhecimento básico de HTML por parte de Page e ao fato da dupla não ter dinheiro para pagar um desenvolvedor de páginas da web.
Além disso, como eles não tinham muito espaço (e os computadores ainda não tinham nada de micro), Page ficava constantemente atualizando o código do buscador de forma a otimizar o uso dos servidores e processadores. Isso tornou o Google mais rápido e eficiente do que seus concorrentes uma vez que, já em junho de 2000, o mecanismo de busca se tornou capaz de rastrear mais de 1 bilhão de URLs, transformando-se no mais abrangente da época.
O lançamento público oficial do Google, no entanto, aconteceu mesmo em 1998 quando Larry Page e Sergey Brin conseguiram convencer o investidor de risco e co-fundador da Sun Mycrosystems, Andy Bechtolsheim, a investir US$ 100 mil na “startup”. Andy, no entanto, teve que esperar duas semanas até que Larry e Sergey lidassem com a burocracia, afinal, o Google, até então, não existia como empresa constituída.
A partir daí, o crescimento do Google se deve muito ao modelo de gestão adotado pelo autoproclamado CEO da empresa. Com a missão de “organizar as informações do mundo e torná-las universalmente acessíveis e úteis”, Page conseguiu um empréstimo de mais US$ 1 milhão com amigos, familiares e, até, ex-professores da universidade que acreditavam na sua ideia e montou um escritório em Mountain View, já no início de 2000.
Na mesma época, Larry Page também adotou uma política de adquirir outras empresas voltadas ao meio digital, incorporando suas tecnologias e aumentando o leque de opções da plataforma que seguia desenvolvendo e um modelo de gestão um tanto polêmico. Responsável por demitir uma série de gerentes, ele instituiu uma prática – adotada posteriormente em quase todas as empresas de tecnologia – de que equipes de engenheiros deveriam ser lideradas por gerentes também engenheiros.
Assim, o CEO fez o Google chamar a atenção dos dois maiores investidores do Vale do Silício, Kleiner Perkings Caufield & Byers e Sequoia Capital. Ambos concordaram em investir um total combinado de US$ 50 milhões, mas, ironicamente, pressionaram Page a renunciar ao cargo de CEO para que um líder mais experiente em gestão pudesse assumir.
Depois de certa relutância, Page conversou com outros CEOs da área de tecnologia, incluindo Steve Jobs, da Apple, e Andrew Grove, da Intel, e topou ceder o cargo para Eric Schmidt. O novo funcionário deixou o cargo de presidente executivo na Novell para assumir o mesmo posto no promissor Google Inc., enquanto o criador Larry Page se limitou ao cargo de presidente de produtos.
Apesar de, internamente, Page seguir sendo visto como o chefe do Google, dando a palavra final sobre todas as contratações, a liderança de Schmidt agradou o mercado. Foi sob o seu comando que o Google deu um dos passos mais importantes de sua história e realizou sua oferta pública inicial (IPO) de ações na bolsa de Nova York, em 20 de agosto de 2004. Na ocasião, Page assinou o IPO e se tornou bilionário aos 30 anos de idade. Além disso, ele, Sergey e Schmidt entraram em um acordo: trabalhar no Google por mais 20 anos.
Ninguém sabe se os três vão resolver se aposentar e se mudar para uma ilha deserta às 9h30 de 19 de agosto de 2024. Enquanto isso, Page e companhia seguem trabalhando firmes e fortes no desenvolvimento da principal ferramenta de buscas da internet.
Após o IPO, Page liderou diversas aquisições, entre elas destaca-se a do Android logo no ano seguinte, por US$ 50 milhões. Mesmo sem comunicar Schmidt, que ainda era o CEO do Google na época, Larry Page seguiu sua ambição de colocar computadores de mão na posse dos consumidores para que eles pudessem acessar o buscador em qualquer lugar.
Por se tratar de uma aquisição relativamente pequena, a compra do Android não causou grande impacto inicial no mercado. Porém, a paixão pessoal de Page pelo sistema operacional para smartphones fez com que o primeiro telefone com software Android, lançado em 2008, passasse a deter 17,2% do mercado, em 2010. Esse sistema operacional se tornou o mais popular do mundo em 2017.
Anos antes, Page tornou-se novamente o CEO do Google. A essa altura, a empresa já tinha mais de US$ 180 bilhões em valor de mercado e mais de 24 mil funcionários. Schmidt, por sua vez, seguiu trabalhando no Google até que…
A dimensão que o Google tomou e a ambição de Larry Page por adquirir cada vez mais negócios de tecnologia levaram a empresa a tomar a decisão mais importante de sua história: em 10 de agosto de 2015, Page anunciou pelo blog do Google a criação da Alphabet Inc, uma holding que passou a abarcar, além do próprio Google, todas as demais subsidiárias da empresa incluindo Waymo, Verily, Sidewalk Labs e Google Fiber.
A nova empresa, que chegou a se tornar a maior do mundo apenas um ano depois, provocou uma mudança na estrutura gerencial. O ex-chefe de produtos do Google, Sundar Pichai, se tornou o terceiro CEO da empresa. O co-fundador do Google, Sergey Brin, se tornou presidente da Alphabet. E Larry Page subiu a escada e se tornou o CEO da Alphabet, ampliando ainda mais seus horizontes.
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Personalidade e vida pessoal de Larry Page
Apesar do sucesso inquestionável no mundo dos negócios e de ter criado uma empresa com uma cultura riquíssima em que muitas pessoas desejam trabalhar, Larry Page nem sempre foi visto como um bom chefe. Reconhecido por ter uma abordagem pouco ortodoxa e muito contundente, Page desenvolveu um estilo gerencial que estimula discussões acaloradas que contam, inclusive, com alguns xingamentos, como as que tinha com seu sócio Sergey Brin desde o início da criação do Google. Há inúmeros relatos de reuniões em que ele estimulou a argumentação e a divergência entre seus funcionários.
Por outro lado, o multibilionário é fissurado por economia de tempo e chega a contar os segundos em voz alta durante apresentações lentas como forma de pressionar os palestrantes. Em outro momento, no entanto, Page ficou além do trabalho para conversar com um zelador, expressando aprovação por seu método eficiente de substituir os sacos de lixo do escritório. Essa maneira de gerir pessoas, portanto, é mais visto como “amor duro” do que como tirania por parte de seus subordinados.
Outro ponto valorizado pelo CEO da Alphabet é a ambição e a criatividade. Aos seus olhos, o papel de uma pessoa na empresa é secundário em relação ao seu desempenho no trabalho. Em um dos momentos em que mais caracterizou esse seu pensamento, Larry declarou que “só porque alguém é júnior não significa que ele não mereça respeito e cooperação” e acrescentou que “uma das piores coisas que você pode fazer é impedir alguém de fazer algo só dizendo ‘não e ponto final’. Se você diz não, você deve ajudar a encontrar uma maneira melhor de fazer aquilo.”
Não se sabe, porém, muito sobre como Larry Page é na sua vida pessoal e se essas características também se fazem presentes fora do Google. Ele mantém sua vida privada muito reservada. Sabe-se que ele se casou com a cientistas Lucinda Southworth, em 2007, em uma ilha particular no Caribe, que pertence ao seu amigo pessoal Richard Branson. Juntos, o casal teve dois filhos, nascidos em 2009 e 2011. Ele vive numa “ecohouse” de 560 metros quadrados em Palo Alto, construída também em 2009 de forma a ter o menor impacto ambiental possível.
O que mais chama a atenção sobre a vida particular de Page, no entanto, são seus problemas de saúde. O empresário é portador de uma desordem autoimune chamada tireoidite de Hashimoto que já lhe causou repetidos problemas com suas cordas vocais e capacidade de falar. Por esse motivo, estima-se que o bilionária já tenha doado mais de US$ 20 milhões para o Voice Health Institute, em Boston, um programa de pesquisa de função dos nervos vocais localizado no Massachusetts General Hospital.
O filantropismo de Page, porém, não se resume a isso. Ainda que seja proprietário de um superiate chamado de “Senses”, equipado com heliponto, academia, decks de vários níveis, dez suítes de luxo, uma equipe de 14 funcionários e decoração feita pelo designer francês Philippe Starck, adquirido em 2011 pelo valor de US$ 45 milhões, o fundador do Google também criou uma fundação com o nome de seu pai com ativos superiores a US$ 1 bilhão, que se destacou por momentos como o que doou US$ 15 milhões para ajudar no esforço contra a epidemia de vírus Ebola na África Ocidental, em novembro de 2014.
Apaixonado por tecnologia em todos os aspectos da vida, Larry ainda usa seu tempo livre para procurar novas oportunidades de negócio. Recentemente, ele se tornou investidor de duas startups, a Kitty Hawk e a Opener, empresas que trabalham para produzir carros voadores. Até hoje, dois modelos já foram lançados. O primeiro, Cora, é mais parecido com um avião do que com um carro e foi criado pensando em transporte compartilhado nas grandes cidades. O segundo, Flyer, tem cara de drone, capacidade para uma pessoa e tem propósito apenas de lazer.
Dessa forma, pelo conjunto da obra, Larry Page foi considerado o principal inovador do ano pela revista Research and Development Magazine e também foi eleito para a Academia Nacional de Engenharia Norte Americana.
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