Bolsa de valores: o que é e como funciona?

Por Redação Onze

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Se você já é ou pretende se tornar um investidor, uma das primeiras lições que você precisa fazer é conhecer detalhadamente o que é uma bolsa de valores. Esse lugar onde empresas e pessoas “se encontram” para comprar e vender ações pode ser considerado o coração do mercado financeiro.

Para tanto, vale a pena começar pelo início para entender por que a bolsa de valores oferece muitos riscos, mas também muito potencial de ganhos.

Quando e onde surgiu a bolsa de valores?

De maneira simplista, a bolsa de valores não deixa de ser um supermercado. Sua origem remonta, justamente, os mercados que eram montados à beira dos portos na Grécia antiga. Lá, marinheiros chegavam de várias partes do mundo com a intenção de vender ou trocar suas mercadorias enquanto muitas outras pessoas iam de encontro a eles querendo adquirir o que eles tinham para oferecer.

A ideia mais moderna do que é uma bolsa de valores, no entanto, surgiu em meados do século XV quando um importante comerciante da cidade de Bruges, na Bélgica, transformou sua casa num ponto de encontro entre mercadores e comerciantes, a fim de realizar seus negócios. O brasão da família do senhor Van der Burse era justamente o desenho de três bolsas e foi a partir daí que o nome bolsa de valores começou a ser utilizado.

Décadas depois, a ideia de reunir pessoas num local para comprar e vender moedas, letras de câmbio e metais preciosos amadureceu e outras bolsas começaram a surgir pelo mundo. Durante o período da Revolução Comercial, que se estendeu até o século XVIII, outros pontos de encontro como esse são criados na Antuérpia, ainda na Bélgica; em Amsterdam, nos Países Baixos; e em Lyon, Bordeaux e Marseille, na França.

Já no século seguinte, importantes bolsas de valores foram criadas em Paris e em Londres, mas só no século XIX, o comércio de ações pelo qual as bolsas de valores mundo afora são conhecidas começaram a surgir. Nessa ocasião, algumas bolsas se mantiveram trocando mercadorias, enquanto outras se dedicaram ao comércio de valores mobiliários.

A criação da bolsa de Nova York, em 17 de maio de 1792, também foi um importante passo para a consolidação das bolsas de valores pelo mundo. Diante da concorrência de um grupo poderoso de comerciantes de títulos da dívida pública, vinte e quatro corretores de reuniram em frente ao número 68 da Wall Street e assinaram o famoso Acordo de Plátano.

Nesse documento, os corretores acordaram que só fariam negócios entre si e que manteriam uma taxa de comissão mínima de 0,25%, criando uma espécie de clube fechado e as primeiras regras formais desse tipo de comércio. Já em 1817, os 24 corretores fundaram oficialmente a New York Stock Exchange (NYSE) e dessa forma passaram a atrair bancos e empresas de seguros que viam na instituição uma maneira mais segura de comprar e vender seus títulos. Foi assim que os Estados Unidos se tornaram uma referência global do comércio de ações na bolsa de valores.

O que é uma bolsa de valores?

Originalmente, as bolsas de valores eram locais onde se trocavam mercadorias. Com o passar do tempo, porém, a ideia de vender apenas os papéis equivalentes aos títulos do Estado, ações das empresas, moedas e commodities prevaleceu. Dessa forma, na concepção atual de uma bolsa de valores é o lugar onde compradores e vendedores de ações se encontram para negociar.

Com a tecnologia, porém, esse “encontro” entre o vendedor e o comprador se tornou uma metáfora, já que a maioria dos pregões (período de negociação) pelo mundo se digitalizaram.

De qualquer forma, as bolsas de valores continuam estabelecendo as regras e fornecendo a estrutura que garante segurança, agilidade e transparência para que:

  • o investidor que vende uma ação receba por ela;
  • o investidor que compra uma ação pague por ela;
  • as ações vendidas sejam reconhecidas como do investidor que as comprou;
  • as ações fiquem guardadas em “local” seguro.

Como funciona uma bolsa de valores?

Para entender bem como funciona uma bolsa de valores, é preciso compreender o processo desde o momento em que uma empresa decide abrir seu capital, ou seja, vender suas ações no mercado.

Normalmente, uma empresa é criada da ideia de uma pessoa (ou de um grupo de pessoas) que quer prestar um serviço ou vender um produto. O investimento inicial para colocar uma empresa de pé geralmente é feito com os recursos próprio dos donos, mas também é possível encontrar investidores interessados em colocar dinheiro naquela ideia, o que geralmente é feito comprando uma ou várias partes dessa empresa.

Até que a empresa cresça substancialmente, essa compra e venda de partes da empresa é feita diretamente entre os (poucos) investidores que detém uma fatia da companhia em questão. Só quando a empresa já tem um certo tamanho e seus donos decidem que é a hora de levantar ainda mais dinheiro para continuar expandindo é que o processo de abertura de capital é realizado. Muitas empresas, no entanto, mesmo após ficarem enormes, decidem nunca fazer essa abertura e permanecem sendo dos mesmos donos desde a sua criação.

Aquelas que decidem “abrir o capital”, porém, escolhem uma das modalidades de como começar a vender pequenas partes da companhia, a que chamamos de ação. A maneira mais conhecida de fazer isso é o IPO (sigla para Initial Public Offering, ou Oferta Pública Inicial).

Definida a quantidade e as condições em que essas ações serão vendidas na bolsa, a oferta pública inicial é feita e os investidores do mundo inteiro passam a poder comprar uma fatia daquela companhia no que é chamado de Mercado Primário. Ou seja, as ações da empresa são vendidas a investidores e a bolsa repassa esses valores para a empresa correspondente.

Para fazer essa aquisição, porém, os investidores devem procurar uma corretora ou instituição financeira regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que é o órgão vinculado ao Ministério da Fazenda responsável por fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no caso do Brasil. No site da B3 – a principal bolsa de valores do Brasil – é possível conferir todas as corretoras regulamentadas pela bolsa para fazer operações no mercado financeiro.

Realizada essa primeira etapa, as ações listadas na bolsa de valores passam a ser comercializadas entre os próprios investidores, o que configura o Mercado Secundário. Dessa vez, a empresa original não ganha mais com as aquisições e o dinheiro vai de um investidor para outro.

Esse comércio especificamente é feito por meio de uma ordem de venda dada de um investidor que detém a ação para sua corretora por um determinado preço e essa ordem é registrada automaticamente na Bolsa.

Se outro investidor, que deseja comprar ações, envia uma ordem de compra no mesmo valor, a negociação é feita por intermédio da bolsa que registra os valores, quem vendeu, quem comprou e garante a segurança do processo.

O que é vendido numa bolsa de valores?

Além de todo o mercado de ações, outros itens são vendidos numa bolsa de valores. As especificações variam de uma bolsa para outra, mas no caso da bolsa brasileira, a resposta curta é: praticamente tudo.

Isso acontece porque a B3, sigla para Brasil, Bolsa e Balcão, é resultado de uma fusão realizada em março de 2017 das antigas BM&F Bovespa e Cetip, a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos.

Nesse caso, enquanto a primeira era uma referência na área de ativos e derivativos do País e já era a maior e mais importante bolsa de valores do Brasil, a segunda se destacava pela compra e venda de títulos em custódia e em sistemas de registros, especialmente os de renda fixa.

Dessa forma, tudo que é vendido na atual B3 pode ser resumido em duas partes:

Mercado de ações

Atualmente, cerca de 340 ações estão listadas na B3. Para facilitar o processo, a B3 divide todas essas empresas em diversos setores, como:

  • Bens Industriais
  • Consumo Cíclico
  • Consumo não Cíclico
  • Financeiro e Outros
  • Materiais Básicos
  • Petróleo. Gás e Biocombustíveis
  • Saúde
  • Tecnologia da Informação
  • Telecomunicações
  • Utilidade Pública

Dessa forma, investidores e traders interessados em apenas um setor da economia podem fazer comparativos de forma mais fácil e rápida.

Outros ativos

Para além do mercado de ações, também é possível encontrar na B3 outros ativos que foram reunidos após a fusão entre BM&F Bovespa e Cetip, sendo eles:

  • Ativos de Renda fixa públicos e privados e cotas de fundos: o que inclui papéis do Tesouro direto, Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), fundos de investimento, entre outros.
  • Derivativos: instrumentos econômicos cujos valores finais derivam, de forma total ou parcial, dos valores de outros títulos, como moedas e juros. Na B3, são negociados os derivativos de balcão e os derivativos listados.
  • Mercados à vista, de renda variável, ouro e câmbio: nesse grupo, são realizadas transações de compra e venda de ativos (ações, ouro, câmbio, etc.), cujos valores são estabelecidos em pregão com base na oferta e na demanda.

Horário de negociação

Para que tantas negociações funcionem bem, além da rigidez dos processos,não é possível comprar e vender ações a qualquer hora do dia – ainda que as negociações sejam feitas online. É preciso respeitar os horários específicos determinados pela bolsa para cada tipo de ação e outros tipos de ativos.

Atualmente, os horários de negociação estabelecidos pela B3 são:

Ativo:Pré-AberturaNegociaçãoCall de FechamentoAfter Market
InícioFimInícioFimInícioFimInícioFim
Ações09:4510:0010:0017:0016:5517:0017:3018:00
Futuros de Commodities09:0016:0015:5516:0015:3018:00
Futuros de Dólar08:5509:0009:0018:0017?5518:00
Futuros de Índices08:5509:0009:0017:5517:5017:55
Opções de ações09:4510:0019:0016:5516:5016:55

Durante a pré-abertura do mercado, o preço de abertura de um ativo é determinado. No caso de um incidente em que gere a expectativa de queda brusca do preço de uma ação, por exemplo, os investidores que possuem tais papéis podem gerar uma ordem antecipada de venda por um valor mais baixo, pré-estipulado. Assim, quando o mercado abrir, uma espécie de leilão por aquela ação é realizada tendo aquele valor mínimo como ponto de  partida.

Em contrapartida, a call de fechamento tem objetivo semelhante ao da pré-abertura sendo que, nesse caso, ela determina o preço de fechamento de uma ação. Por esse motivo, a call de fechamento é realizada cinco minutos antes do fim do pregão com o objetivo de fazer um leilão da ação antes do fim do dia.

Já o after market é um período estendido do horário normal em que investidores têm a oportunidade de realizar algum ajuste em suas ordens de compra e venda que não conseguiram terminar durante o período normal do pregão. Esse horário, no entanto, tem suas restrições, como o limite de oscilação de 2% para ou mais ou para menos e o fato de serem negociadas apenas ações que compõem o Índice Bovespa (Ibovespa).

O Ibovespa (ou IBOV), por sua vez, é o principal indicador do desempenho médio das cotações dos ativos de maior negociação e representatividade do mercado brasileiro de ações. Em outras palavras, ele é um termômetro do mercado financeiro no Brasil, pois reúne as principais empresas que comercializam suas ações atualmente na B3. Como todo índice, ele acaba funcionando como uma cesta de ações e também pode ser comprado e vendido na bolsa. Dessa forma, com apenas uma operação, o investidor pode adquirir fatias de várias das principais empresas do País.

Por que investir na bolsa de valores?

Numa bolsa de valores como a B3, por exemplo, há uma vasta gama de opções de investimentos à disposição dos investidores, de títulos de renda fixa, baixa liquidez e longo prazo de retorno até ações de curto prazo, com renda variável e liquidez instantânea. Por isso, a bolsa de valores é um lugar em que as pessoas podem fazer grandes fortunas ou perder muito dinheiro com muita rapidez.

No geral, a diferença para outros investimentos oferecidos por bancos ou fintechs é justamente o potencial de ganho. Qualquer pessoa que tira o dinheiro da conta corrente e coloca na poupança já está fazendo um (mau) investimento, mas na bolsa de valores, apesar de aplicações poderem ser feitas a partir de R$ 100, a dinâmica e o risco envolvidos são bem maiores.

Quem tem muito dinheiro e está disposto a arriscar uma parte do seu capital, porém, pode obter ganhos muito maiores do que uma aplicação feita num produto de prateleira de um banco tradicional.

Para citar um exemplo, quem compra uma ação geralmente tem uma das duas intenções: obter dividendos ou revendê-las. Na primeira opção, a pessoa compra uma parte da empresa esperando que ela vá crescer, lucrar e redistribuir uma parte desse ganho com as pessoas que supostamente compraram uma parte da empresa e financiaram esse crescimento. Já na segunda opção, o investidor apenas entende que num momento futuro conseguirá revender a ação que comprou por um preço maior.

Por isso, saber se vale a pena investir na bolsa varia de caso a caso. Por padrão, vale a pena se perguntar: quanto tempo e dinheiro estou disposto a investir na bolsa? Quanto eu me sinto confortável em perder? Quanto eu dependo desse dinheiro? Qual é o prazo esperado para o retorno do meu investimento? Se tudo der errado, qual é minha outra opção?

Se a opção seguinte continuar sendo investir na bolsa, vale a pena pesquisar bem, procurar o melhor custo de oportunidade de acordo com o seu perfil e só começar quando tiver eximido todas as dúvidas. E estiver confortável. Afinal, é de dinheiro que estamos falando e com isso não se brinca.