Minimalismo financeiro: como viver melhor gastando menos
O minimalismo financeiro é muito mais do que um estilo de vida econômico: é um caminho para se libertar do excesso, usar o dinheiro com inteligência e ter mais tempo para o que realmente importa. Afinal, os bens materiais são apenas uma parte da história — e não devem ser o principal capítulo.
Se você sente que vive em função do dinheiro, não possui uma boa saúde financeira e está entre os 120 milhões de brasileiros que se estressam com as finanças (dados da Black Rock), simplificar o orçamento e se livrar dos gastos supérfluos pode ser a solução. Parece desafiador, mas vamos mostrar que o minimalismo financeiro é possível em alguns tópicos essenciais:
- O que é e o que não é minimalismo financeiro
- Origem desse estilo de vida
- Proposta do minimalismo financeiro
- 4 motivos para aderir
- 7 passos para aplicar o minimalismo financeiro na sua vida.
O que é minimalismo financeiro
Minimalismo financeiro é a aplicação da proposta minimalista às finanças pessoais. Seu objetivo é simplificar a vida financeira ao máximo e gastar o mínimo possível para investir no que realmente importa.
No dicionário, o termo minimalismo significa “a procura de soluções que requeiram o mínimo de meios e esforços”. Logo, ser minimalista com dinheiro significa comprar menos, aproveitar melhor os recursos e poupar para atingir objetivos de longo prazo — e claro, livrar-se dos gastos supérfluos, compras por impulso e dívidas.
Resumidamente, é a máxima “menos é mais” aplicada ao dinheiro e ao patrimônio, priorizando o “ser” ao invés do “ter”.
O que não é minimalismo financeiro
À primeira vista, o minimalismo financeiro pode parecer uma forma de economizar a qualquer custo ou mesmo um estilo de vida cheio de privações, mas é justamente o contrário: é um caminho para usar o dinheiro com mais sabedoria e se desapegar do excesso de bens materiais para ser mais feliz.
Os adeptos dessa ideia não deixam de comprar o que necessitam nem são contra o consumo — apenas priorizam a qualidade em vez da quantidade e não vivem em função do dinheiro. Dessa forma, conseguem se libertar das preocupações financeiras, organizar melhor as contas e ganhar tempo e energia para se dedicar a relações, paixões, crescimento pessoal e outras áreas inestimáveis da vida.
Ou seja: o problema não é possuir bens materiais, mas sim se apegar a eles como se fossem o mais importante na vida. No minimalismo financeiro, o patrimônio é apenas um meio para alcançar objetivos e realizações, e deve ser administrado com consciência e equilíbrio.
Isso não significa abrir mão dos pequenos prazeres, produtos de qualidade ou conforto, mas sim priorizar o que é mais importante, duradouro e com o melhor custo-benefício.
Vamos imaginar que você dê muito valor em ter uma casa espaçosa ou então em viajar duas vezes ao ano com sua família, mas não se importe em ter um carro mais velho ou frequentar menos restaurantes, por exemplo.
Um minimalista vai colocar seu tempo e dinheiro naquilo que realmente é importante para ele e cortar ao máximos os gastos menos relevantes que, no caso, são os restaurantes e a troca de carro todo ano. Veja que não necessariamente ele deve priorizar apenas os gastos essenciais. Trata-se de abrir mão de algumas coisas para ter outras.
Origem do minimalismo financeiro
O minimalismo como tendência artística teve seu auge nas décadas de 1950 e 1960, mas só se tornou um estilo de vida mais tarde, para contrapor o avanço do consumismo. Desde a Revolução Industrial, a produção em massa aumentou exponencialmente o nível de consumo e, com o surgimento da internet e táticas publicitárias cada vez mais persuasivas, comprar em excesso se tornou o novo padrão.
Nesse contexto, algumas pessoas perceberam que ter muitas coisas não é sinônimo de felicidade. Não que a ideia seja nova, pois a defesa de uma vida mais simples, menos materialista e livre de excessos está presente em várias religiões e filosofias.
No século 20, um dos primeiros livros sobre o assunto foi The Value of Voluntary Simplicity (Cultrix, 2009), publicado originalmente em 1936. Mas a primeira obra que foca especificamente no minimalismo financeiro é Minimalist Budget (CreateSpace, 2014) de Simeon Lindstrom: um guia prático para poupar dinheiro, gastar menos e viver melhor.
Afinal, o que o minimalismo financeiro defende?
O minimalismo financeiro defende que uma vida financeira simplificada é sinônimo de liberdade. Para os ex-executivos Joshua Fields e Ryan Nicodemus, autores do livro Minimalism (Asymmetrical Press, 2015) e do documentário Minimalism: A Documentary About the Important Things (2016), ser minimalista é se livrar das preocupações e assumir o controle das finanças — antes que elas controlem você.
Em um de seus artigos de referência, eles apontam para os problemas crônicos que o dinheiro causa em nossas vidas: estresse, ansiedade, crises em relações, endividamento, impulsos consumistas, etc. Logo, o minimalismo financeiro é a solução para se libertar dessas armadilhas e fazer escolhas conscientes sobre dinheiro.
Essencialmente, é preciso tomar boas decisões para aproveitar os recursos disponíveis, independentemente da renda. Na prática, isso significa quitar dívidas, eliminar despesas supérfluas, poupar para o futuro, reduzir contas, mudar hábitos, entre outras atitudes que vamos explorar mais adiante.
4 motivos para adotar o minimalismo financeiro
O minimalismo financeiro traz inúmeras vantagens para o bolso e para a qualidade de vida de modo geral. Confira alguns motivos para aderir (mesmo que parcialmente):
1. Redução do estresse financeiro
O estresse financeiro atinge em cheio os brasileiros: 58% apontam que o dinheiro é sua principal causa de estresse, seguido do trabalho (57%) e família (35%), de acordo com uma pesquisa da gestora de investimentos Black Rock, publicada em 2019.
Outra pesquisa, realizada pelo Instituto de Psicologia e Controle do Stress e publicada em 2019 mostra que a dificuldade financeira é o principal motivo por trás dos diagnósticos de estresse, ansiedade e pânico, à frente da sobrecarga de trabalho e relacionamentos.
Com o minimalismo financeiro, a tendência é reduzir drasticamente o estresse por meio do controle e organização do orçamento.
2. Domínio sobre o orçamento
Um dos princípios do minimalismo financeiro é simplificar o orçamento e ter poucas contas para pagar. Para isso, é preciso ter foco, disciplina e controle de tudo que entra e sai da conta bancária. Considerando que seis em cada 10 brasileiros admitem não dedicar nenhum tempo ao controle financeiro, segundo um estudo de 2019 do SPC Brasil, essa é uma ótima forma de começar.
3. Controle dos impulsos consumistas
Outro dado que chama a atenção na pesquisa do SPC Brasil é que um terço dos consumidores admite comprar por impulso e 45% não consegue resistir às promoções e compra além do planejado. Com a prática do minimalismo financeiro, é mais fácil separar o que realmente é necessário dos luxos e itens supérfluos.
4. Motivação para investir
O minimalismo financeiro incentiva o investimento porque prioriza os objetivos maiores, como ter uma casa própria ou se aposentar com tranquilidade. Essa é uma vantagem e tanto, levando em conta que apenas 23% dos brasileiros fazem investimentos planejados e 34% afirmam que nunca sobra dinheiro para investir, segundo o relatório Trajetória Financeira do Brasileiro, publicado em 2018 pela Anbima.
7 passos para aplicar o minimalismo financeiro na sua vida
Você já deve estar imaginando formas de aplicar o minimalismo financeiro na sua vida e se beneficiar dessa filosofia. Siga os passos abaixo para começar sua jornada de transformação:
1. Coloque ordem no caos financeiro
O primeiro passo do minimalismo financeiro é colocar ordem na casa, começando pelo registro de todas as despesas e receitas atuais. Anote todos os gastos e classifique as despesas fixas (aluguel, internet, contas de consumo) e variáveis (lazer, supermercado, vestuário), e depois compare com a renda total disponível mensalmente.
Hoje, você pode fazer esse mapeamento com de aplicativos e ferramentas digitais de controle financeiro que facilitam o trabalho. Obviamente, a regra número um é gastar menos do que se ganha, e será seu ponto de partida para simplificar as contas.
2. Elimine os gastos supérfluos
O próximo passo é olhar para sua lista de despesas e se perguntar se você realmente precisa de tudo isso. Então, trace metas para reduzir os gastos supérfluos, direcionar o dinheiro para produtos e serviços melhores e equilibrar seu orçamento.
Isso não quer dizer, necessariamente, gastar menos que outras pessoas, mas sim ter um orçamento mais enxuto focado nos recursos que realmente agregam valor à vida. Como diz o consultor financeiro Gustavo Cerbasi em entrevista ao canal da BTG Pactual, “não é uma questão de ter tudo, mas ter aquilo que é melhor para nós”.
Um método interessante para isso é aplicar a regra 50-20-30: 50% para gastos essenciais, 20% para prioridades financeiras (como financiamentos) e 30% para momentos de lazer e desejos pessoais.
3. Livre-se do que você não precisa
Além de planejar seu orçamento, o minimalismo financeiro também propõe que você se livre das coisas acumuladas que não têm mais serventia. Para isso, Joshua Fields e Ryan Nicodemus indicam o método 90/90: descartar tudo o que não é usado há mais de 90 dias e não será usado nos próximos 90 dias.
Uma boa estratégia é fazer trocas e doações — e não faltam aplicativos e sites para isso.
4. Crie sua reserva de emergência
Para se manter fiel ao seu orçamento minimalista, você precisa ter uma reserva de emergência para imprevistos. O ideal é guardar o suficiente para cobrir suas despesas por no mínimo seis meses, em caso de demissão ou comprometimento da renda.
5. Invista para o futuro
Outra regra essencial do minimalismo financeiro é investir para o futuro, garantindo sua tranquilidade em longo prazo em vez de gastar dinheiro com prazeres imediatos. Você pode começar com um plano de previdência privada para assegurar sua aposentadoria, por exemplo, e também buscar opções de ativos em renda fixa, ações, fundos de investimentos.
6. Quite as dívidas e evite o crédito
Para realizar o minimalismo financeiro por completo, é preciso quitar todas as suas dívidas e evitar o uso do crédito. É claro que isso pode levar algum tempo, mas é uma prioridade, pois um dos princípios mais importantes é gastar somente os recursos que você tem hoje.
Para começar, tente antecipar suas dívidas e ficar com apenas um cartão de crédito, que deve ser usado somente em situações excepcionais. Para Fields e Nicodemus, você não consegue se libertar totalmente enquanto estiver devendo — mesmo que sejam parcelas e juros.
7. Simplifique seu estilo de vida
Simplificar o estilo de vida é um dos pilares básicos do minimalismo financeiro, mas também um dos mais difíceis. Aqui, cabe uma reflexão sobre o seu padrão de vida atual: o que poderia ficar menor, mais simples e mais barato em nome de outras prioridades?
Para alguns, pode significar a troca de um imóvel desnecessariamente espaçoso por um mais funcional (e não pior, que fique claro), ou a troca do carro esportivo por um mais econômico. Outra opção é vender roupas que só ocupam espaço no guarda-roupa e escolher peças básicas e duráveis, ou voltar para as opções pré-pagas em serviços para pagar somente pelo que usa.
Enfim, os caminhos para o minimalismo financeiro são muitos, e você deverá adaptar essa filosofia às suas condições e objetivos atuais. O importante é seguir os princípios básicos e fazer do controle financeiro a sua libertação.