Como começar a investir: um passo a passo para investidores iniciantes

Por Redação Onze

fundos-multimercados

Cerca de 56% dos brasileiros não possuía nenhum tipo de investimento financeiro até 2018, segundo a pesquisa Raio X do Investidor Brasileiro de 2019, realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Mais da metade das pessoas entrevistadas indicou não conhecer qualquer produto de investimento, possível razão que os impede de começar a investir.

E mesmo entre aqueles que conhecem algum tipo de investimento, a poupança foi o produto mais lembrado, apesar de não ser a alternativa mais rentável. Começar a investir pode parecer muito complicado para quem não tem contato com o mercado financeiro, mas não precisa ser. Para ajudar novos investidores, a Onze preparou um passo a passo com dicas de Samuel Torres, analista de investimentos da Capital Research.

Como começar a investir

Quanto mais cedo uma pessoa começar a investir, maior a possibilidade de ela potencializar seus rendimentos, criar segurança financeira e garantir uma boa aposentadoria, aumentando consequentemente sua qualidade de vida. Se você tem interesse em investir, mas não sabe muito bem por onde começar, aqui estão 4 etapas simples para sair do zero:

Passo 1: Faça uma reserva de emergência

A primeira coisa que quem quer começar a investir precisa fazer é juntar dinheiro para criar uma reserva de emergência. O recomendado é que a reserva seja de um valor entre seis e doze vezes o gasto mensal investidos em aplicações seguras e com alta liquidez, ou seja, que possam ser resgatadas a qualquer momento. Isso significa que, se todo mês você gasta mil reais em despesas, sua reserva deve ser entre 6 e 12 mil reais.

O objetivo não é usar essa quantia para gerar grandes lucros, mas investi-la para criar segurança financeira. Dessa forma, é possível focar o resto da carteira de investimento em ativos (produtos) mais arriscados e que tragam um retorno financeiro maior no longo prazo.

O valor dos ativos sofre variações de acordo com mudanças no mercado. Se o investidor não possuir uma reserva de emergência e por algum motivo precisar de dinheiro de forma urgente, como no caso de perder o emprego subitamente, é possível que ele tenha de vender seus ativos em um momento de desvalorização e sofra prejuízo nessa transação.

Samuel Torres aponta que é comum que momentos ruins do mercado financeiro coincidam com cenários desfavoráveis na economia real, como o que ocorreu com a pandemia do coronavírus. Com isso, investidores que não possuem a reserva de emergência podem se ver pressionados a vender seus ativos por preços baixos e acabem perdendo dinheiro.

Por essa razão, o analista de investimentos considera que essa seja a etapa mais importante do processo de começar a investir. Ele aponta que muitas pessoas tentam pular esse passo pelo fato da reserva de emergência não render muito, ainda mais em momentos em que a taxa básica de juros da economia, conhecida como Selic, está baixa. Contudo, isso expõe os investidores a um grande risco financeiro.

Passo 2: Invista a reserva de emergência

Com a reserva de emergência garantida, a próxima etapa é investi-la. Samuel recomenda que o valor seja aplicado no Tesouro Selic ou em um fundo DI com taxa zero. A vantagem do Tesouro Selic é que ele é um título emitido pelo governo que pode ser vendido a qualquer momento sem risco de perder dinheiro. Já o fundo DI possui baixo risco e alta liquidez.

Qualquer pessoa pode investir nesses ativos. A primeira etapa é abrir uma conta em uma corretora de valores ou na gestora do fundo desejado. Depois, é preciso transferir o dinheiro da sua conta corrente para a conta da corretora ou da gestora. Dessa forma, você poderá fazer suas aplicações financeiras e efetivar a operação.

Para começar a investir no Tesouro Selic, é preciso aplicar um valor de, no mínimo, R$ 106,55. Já no fundo DI é possível fazer aplicações a partir de R$ 30. Samuel explica que títulos do governo, como esses, em geral são os mais seguros. O Tesouro Selic inclusive possui uma taxa de risco menor que a poupança e com rentabilidade maior, sendo o mais indicado para começar a investir com segurança.

Passo 3: Amplie sua carteira

Depois de investir sua reserva de emergência no Tesouro Selic ou no fundo DI com taxa zero, o analista de investimento recomenda comprar títulos do Tesouro IPCA+. A vantagem desse tipo de investimento é que ele conta com uma rentabilidade prefixada acrescida da variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que é um retrato da inflação no país). Isso faz com que essa opção gere um lucro um pouco maior do que os investimentos anteriores.

Se o investidor mantiver o título IPCA até o vencimento, irá garantir uma rentabilidade acima da inflação. Só que se ele precisar vender antes do vencimento, existe o risco de perder dinheiro porque o preço do Tesouro IPCA também varia conforme as movimentações da economia e a opinião do mercado sobre as taxas. Para alguém que vai começar a investir agora, o vencimento mais curto disponível no Tesouro IPCA é para 2026.

Por isso, esse investimento se torna um pouco mais arriscado e reforça a importância da reserva de emergência. Para aplicar dinheiro no Tesouro IPCA+, o ideal é que o investidor tenha certeza (ou quase) que conseguirá deixar o dinheiro parado nessa aplicação até o vencimento. Caso ele consiga, a rentabilidade esperada será maior do que se deixar esse valor na reserva de emergência com a taxa Selic. Além disso, quanto maior for a duração da aplicação, maior será a rentabilidade.

Passo 4: Diversifique seus investimentos

Quem seguiu todos os passos até aqui, já possui títulos do Tesouro Selic e do IPCA. Pensando em ampliar a carteira de investimentos, para alguém que não é extremamente avesso a riscos, a próxima etapa seria diversificar ainda mais as aplicações. Para começar a investir de forma mais profissional, Samuel Torres recomenda adquirir cotas de fundos.

Mas por que ter tantos investimentos diferentes? Porque cada um se comporta de maneira distinta em momentos diferentes. Enquanto uma ação pode estar indo bem, um fundo imobiliário pode gerar prejuízo, e vice-versa. O objetivo da diversificação da carteira de investimentos é para que, no consolidado de tudo, o investidor consiga ter um resultado positivo sem grandes riscos ou volatilidade.

  • Invista em fundos de ações

De início, ele indica apostar no BOVA11 e no IVVB11, que são fundos negociados em bolsa de valores. O BOVA11 replica as movimentações do Ibovespa, que é uma das ferramentas mais utilizadas por profissionais do mercado financeiro e funciona como um termômetro das ações que são negociadas na bolsa de valores brasileira. Já o IVVB11 replica o Standard & Poors 500 Index (ou S&P 500), que funciona de maneira similar ao Ibovespa, mas referente ao mercado americano.

Com essas duas opções, Samuel aponta que o investidor já consegue uma carteira bastante diversificada tanto de ações brasileiras quanto americanas. Além disso, apostar nessa dupla oferece uma proteção adicional para os investimentos porque as ações IVVB11 se valorizam quando a cotação do dólar sobe em relação ao real.

Para investir em ações, seja as citadas acima ou outras, é preciso abrir conta em uma corretora. O lote padrão de ações para compra conta com 10 unidades. Assim, considerando o preço unitário, o investimento mínimo seria algo em torno de R$ 1.000 para o BOVA11 e R$ 1.840 para o IVVB11.

Caso o investidor queria escolher ações individualmente (fora do fundo) para compra, o processo se torna mais complexo porque vai demandar que ele estude em detalhes cada empresa e utilize algum método de valuation para avaliar a atratividade do preço de cada ação.

  • Invista em outras opções de fundos

É possível também comprar cotas de outros tipos de fundos com perfil menos agressivo que os fundos de ações, como fundos multimercado, imobiliários, de renda fixa, entre outros. Para escolher, assim como nas ações, é preciso estudar bastante a estrutura de cada um, entender por quais tipos de ativos é composto, quais as taxas cobradas, liquidez e valor da cota.

Uma das opções mais interessantes são os fundos de previdência, que podem ser uma boa estratégia para o longo prazo. Em 2019, para se ter uma ideia, eles tiveram rendimento médio de 11,1% – cerca de 180% do CDI, taxa próxima à Selic. Esse rendimento fica bem acima de boa parte de produtos de renda fixa como CDBs de bancos, ou letras de crédito.

Samuel Torres também indica investir em fundos imobiliários. Essa é uma oportunidade de adquirir cotas de imóveis que você muito provavelmente não poderia adquirir por completo, como shopping centers e grandes centros empresariais. Por esses fundos, é possível ter uma renda frequente graças ao lucro obtido com o pagamento dos aluguéis. Mas é preciso ter em mente que crises como a atual pandemia podem aumentar a vacância dos imóveis e derrubar o valor das cotas.

Erros comuns de iniciante

É normal que quem vai começar a investir cometa alguns deslizes ao longo do caminho, ainda mais se a pessoa não conta com o auxílio de um consultor especializado. Por isso, Torres chama atenção para quatro erros comuns.

  • Não conhecer direito o produto em que está investindo: Às vezes, o investidor iniciante faz um aplicação sem compreender inteiramente como funciona o ativo no qual ele está investimento. Essa falta de conhecimento pode gerar prejuízos. Um exemplo disso ocorre no Tesouro IPCA+. Se o investidor não souber as consequências de não manter a aplicação até o prazo de vencimento, ele corre o risco de perder dinheiro e de desperdiçar recursos, tempo e empenho. Mesmo dentro de cada classe de ativo, não necessariamente cada produto tem as mesmas características, por isso é muito importante entender as especificidades de cada produto antes de aplicar.
  • Ter pressa de ganhar dinheiro: Muitas pessoas se iludem com a ideia de ficar rico de forma rápida e podem acabar correndo mais riscos do que estão preparados para lidar. Isso pode ter várias consequências negativas na vida financeira do investidor iniciante.
  • Não checar as taxas e tributos incidentes: A maioria das operações financeiras possui alguma taxa administrativa e/ou impostos que incidem sobre ela. Antes de fazer um investimento, é preciso calcular bem o impacto dessas taxas e tributos. Dependendo do valor, eles podem consumir totalmente o lucro da aplicação e fazer com que o rendimento não seja rentável ou até mesmo gere prejuízo.
  • Não fazer a reserva de emergência: Como citado anteriormente, ter uma reserva de emergência é essencial para a saúde financeira do investidor e para que ele consiga aplicar recursos em investimentos com risco moderado ou alto. Muito ligado à pressa de ganhar dinheiro, a falta do planejamento da reserva de emergência pode botar a perder os esforços do investidor em momentos adversos ou de crise econômica.
  • Deixar o dinheiro parado: Manter o dinheiro na conta corrente ou mesmo em espécie não é apenas deixar de ganhar mais, mas também perder poder de compra por conta da inflação. Portanto, não investir parte do dinheiro, seja por qualquer motivo, faz com que ele se desvalorize no mercado ao invés de lucrar com a própria inflação, por exemplo.

Quanto mais o investidor souber sobre o mercado financeiro, melhor ele será em identificar boas oportunidades de investimento e evitar equívocos. Alguns conceitos como matemática financeira, contabilidade, evaluation e noções de economia são extremamente úteis nesse sentido e podem ajudar a preparar quem quer começar a investir.

Se você quer aprender mais sobre investimentos, confira nossa lista de cursos sobre o mercado financeiro, do nível iniciante ao profissional!