A pergunta de R$ 1 milhão sobre MBAs no exterior
Novo ano, novos planos. Janeiro marca o início da temporada de planejamento pessoal e de carreira. Ao avaliar os rumos da própria trajetória, muitas pessoas buscam acrescentar novos conhecimentos à sua formação acadêmica para atingir novos objetivos profissionais, melhorando a saúde financeira. Para os que já têm uma graduação, o caminho mais procurado costuma ser o do MBA (sigla para Master of Business Administration), por ser um curso que oferece uma experiência completa no mundo corporativo e pela fama de título valorizado por empresas e recrutadores. Ainda mais prestigiados são os cursos feitos em instituições no exterior. Mas vale a pena investir nesse plano?
Fazer um MBA no Brasil não é barato. Estudar nas escolas mais respeitadas, como a Fundação Dom Cabral (FDC), o Insper, a Fundação Instituto de Administração (FIA) e a Fundação Getulio Vargas (FGV), custa entre R$ 40 mil e R$ 105 mil, a depender da carga horária e do tipo de formação – a maior parte das instituições de ensino permite o parcelamento dos valores do curso.
O alto custo para estudar nas instituições brasileiras de ponta leva muitos profissionais a comparar os cursos daqui com os oferecidos por escolas de outros países. As opções são diversas e também custam caro. Em alguns casos, o custo do MBA pode chegar a mais de meio milhão de reais. Por isso, é sempre importante pesquisar a importância de fazer esse investimento.
Como escolher um MBA em outro país?
Na hora de decidir para onde ir, é recomendável levar em conta não só o custo do MBA, mas também a mudança profissional que ele trará – e que posteriormente pode se traduzir em escaladas na carreira e aumento nos rendimentos. Além disso, claro, é preciso avaliar os aspectos culturais do país de destino e as condições de estadia durante o período do curso.
A QS Quacquarelli Symonds, organização internacional de pesquisa em educação, produz anualmente um ranking dos melhores MBAs do mundo. Na lista de 2019, os Estados Unidos ficaram com quatro das cinco primeiras posições: Stanford, Harvard, Wharton (University of Pennsylvania) e Sloan (MIT). A London Business School, no Reino Unido, foi a 4ª colocada.
Qual é a vantagem em apostar nos principais nomes? A resposta depende do objetivo profissional.
“O mercado financeiro, as consultorias e as multinacionais ainda gostam de contratar MBAs de instituições mais renomadas porque os perfis dos executivos são públicos e influenciam na imagem da empresa”, afirma Annie Kim Podlubny, fundadora do DUX Institute, consultoria que auxilia brasileiros a escolher e ingressar em uma instituição no exterior.
Ela ressalta, ainda, o abismo de qualidade entre grande parte dos cursos brasileiros e os do exterior: “Infelizmente o MBA oferecido por algumas instituições daqui não tem o mesmo valor, principalmente do ponto de vista de formação de candidatos a posições de liderança”.
Talvez isso explique a tímida presença do Brasil na lista: a FIA ficou entre as 300 melhores do mundo (a QS não detalha a posição das instituições após a 201ª colocação). Na classificação de melhores MBAs da América Latina, a instituição brasileira ficou em 8º lugar.
O ranking e os detalhes sobre as top 5
Os 5 melhores MBAs do mundo | ||
Posição | Instituição | País |
1º | Stanford | Estados Unidos |
2º | Harvard | Estados Unidos |
3º | Wharton (University of Pennsylvania) | Estados Unidos |
4º | London Business School | Inglaterra |
5º | Sloan (MIT) | Estados Unidos |
Fonte: QS Global MBA Rankings 2019 |
As informações sobre o custo dos cursos descritas abaixo têm como referência os números informados pela QS. Tanto a QS como as próprias instituições disponibilizam os dados de despesas anuais com o MBA, e não o custo total do programa. No caso dos cursos que duram dois anos, o valor pode chegar ao dobro do informado. Já os cursos que duram menos que 24 meses podem ter um acréscimo médio de 30% a 60% no custo descrito. Conheça os 5 melhores MBAs do mundo:
Stanford
De cada 100 estudantes que se candidatam ao melhor MBA do mundo, apenas 7 são admitidos. Apesar do rigor do processo de seleção, o programa é o que tem a maior taxa de estudantes não-americanos: 40%. O custo do curso, incluindo moradia, material e as mensalidades, é de quase US$ 140 mil (algo como meio milhão de reais). A duração total é de 24 meses.
Harvard
A mais famosa universidade americana tem também um dos MBAs mais caros: mais de US$ 150 mil (em reais: 550 mil, na cotação atual). O cálculo-base é de despesas com estudo e moradia. Sua seleção é bastante criteriosa: taxa de apenas 12% de aprovação. O curso dura 24 meses e tem cerca de 30% de estudantes internacionais.
Wharton (University of Pennsylvania)
O MBA em Wharton dura 21 meses – um trimestre a menos, em relação ao das outras americanas. O custo também é menor, de US$ 112 mil (cerca de R$ 410 mil). As mensalidades têm preço similar às de Harvard e Stanford, mas o custo de vida na Pensilvânia é menor. Os estudantes internacionais representam 32% da turma total e a taxa de aprovação é de 18%.
London Business School
O programa da instituição inglesa também dura 21 meses, mas o estudante pode optar por ter mais aulas por dia e concluir o curso em menos tempo – 15 meses ou 18 meses. Por ser referência, o curso atrai alunos de toda a Europa, com uma taxa de 90% de estudantes de outros países. Um quarto dos que se candidatam consegue entrar no programa. O desembolso total é de £ 75 mil (cerca de R$ 350 mil).
Sloan (MIT)
O MBA no MIT, uma das mais respeitadas instituições científicas do mundo, tem uma sólida base de pesquisa. O curso dura 24 meses e custa, assim como o de Wharton, US$ 112 mil (cerca de R$ 410 mil). A taxa de admissão é de 14% e quase metade dos alunos é de outros países.
As melhores para os empreendedores
O MBA pode ser visto como um importante certificado para quem quer ser reconhecido no mercado de trabalho, mas ele é, cada vez mais, uma importante ferramenta para desenvolver o espírito empreendedor dos profissionais. Quem deseja abrir um negócio próprio bem-sucedido, ou quem deseja conciliar o empreendedorismo em sua carreira em uma grande companhia, deve ficar atento a este ranking, também elaborado pela QS Quacquarelli Symonds:
Os 5 melhores MBAs para a formação de empreendedores | ||
Posição | Instituição | País |
1º | Stanford | Estados Unidos |
2º | IE Business School | Espanha |
3º | ESSEC Business School | França |
4º | Harvard | Estados Unidos |
5º | CEIBS | China |
Fonte: QS Global MBA Rankings 2019 |
Para chegar ao resultado, a QS analisou a trajetória dos profissionais que concluíram o MBA nos últimos anos. As instituições que registraram mais alunos em importantes posições de empresas como Apple, Amazon e IBM foram colocadas no início do ranking. Também foram bem as escolas que ajudaram a formar donos de startups promissoras.
A óbvia vencedora foi Stanford, localizada no Vale do Silício, polo da inovação mundial. A espanhola IE Business School, a francesa ESSEC Business School e a chinesa CEIBS também se destacaram e valem a avaliação, já que oferecem cursos com bom custo-benefício.
Outra boa dica é que o empreendedor analise qual é a instituição que mais se destaca no setor em que ele pretende iniciar um novo negócio. Se ele pretende abrir uma fintech, por exemplo, também vale avaliar as universidades bem vistas pelo mercado financeiro: Wharton, ou Booth (Chicago).
As que geram maior retorno financeiro
Os frutos que um MBA traz podem ser medidos de diversas formas – desde satisfação e experiência pessoal, até uma escalada rápida na carreira. De certa forma, a multiplicação do salário e rendimentos é um fator levado em conta por todos os candidatos, seja com maior ou menor importância.
A QS também elaborou um ranking que mede o retorno financeiro do MBA de diferentes instituições. Veja as cinco que mais “compensam”:
Os 5 MBAs com os melhores retornos de investimentos | ||||
Posição | Instituição | País | Pontuação no índice* | Variação da média salarial dos profissionais (antes e depois do MBA) |
1º | Mannheim | Alemanha | 98,3 | 162% |
2º | IE Business School | Espanha | 96,8 | 94% |
3º | DAS Bocconi | Itália | 96,6 | 116% |
4º | Strathclyde | Escócia | 96 | 184% |
5º | Tepper (Carnegie Mellon University) | Estados Unidos | 95,7 | 100% |
* O índice é composto por quatro fatores: tempo de payback, níveis de rendimentos dos alunos, variação da média salarial, retorno sobre o investimento em 10 anos Fonte: QS Global MBA Rankings 2019 |
Para construir o conceito de retorno de investimentos, a QS mapeou os rendimentos dos profissionais formados nos MBAs. Para neutralizar questões específicas, como a diferença de salários de uma região para a outra, foram levados em conta quatro componentes no índice. O primeiro é o tempo de payback, ou seja, em qual período o profissional recuperou os recursos investidos no MBA. O segundo é o próprio nível de rendimentos dos alunos após o curso, que mede quais instituições têm os graduados com os maiores salários. O terceiro é a variação salarial, um comparativo da média dos ganhos dos profissionais antes e depois do MBA. O quarto e último é o retorno sobre o investimento (ROI, sigla em inglês) em um período de 10 anos. Tal critério mede o “prêmio” salarial recebido por um profissional com MBA em uma década.
Entre as cinco melhores, há quatro europeias e uma americana. Nas europeias, o curso custa entre US$ 40 mil e US$ 80 mil. Na Tepper, dos Estados Unidos, a despesa total supera os US$ 120 mil. A ausência de nomes como Harvard e Stanford se dá porque elas perdem muitos pontos no critério de payback. Como os cursos custam duas ou três vezes mais em relação aos MBAs de outros países, leva mais tempo para o estudante recuperar o investimento feito. Mais uma vez, vemos nesse ranking universidades que devem ser avaliadas por quem não quer ou não pode investir um volume grande de dinheiro em um MBA.
As preferidas pelos brasileiros
Segundo Daiana Stolf, fundadora da TopMBA, consultoria especializadas na escolha e admissão em processos de MBA no exterior, o interesse de brasileiros por cursos em outros países tem crescido exponencialmente. Uma forma de medir essa procura é pelo número de brasileiros que realizam o teste GMAT, pré-requisito em seleções nas universidades (leia no tópico abaixo o que é o GMAT e qual sua importância).
O número de exames do GMAT realizados por brasileiros em 2017 foi de 2.756 – quatro anos antes, esse número não passava de 1.700. Mais de 85% dos testes foram feitos para ingresso em programas de MBA.
“Empiricamente falando, as escolas que mais aceitam brasileiros são INSEAD, IE, Ross, Wharton, Kellogg, Darden, IESE, London Business School e Harvard. A maioria desses programas recebe de 15 a 25 brasileiros por ano”, diz Daiana, da TopMBA.
De acordo com Annie Kim Podlubny, do DUX Institute, há também um aumento nas aplicações para MBAs no Canadá, dado o crescimento de oportunidades de trabalho para estrangeiros e da maior facilidade de obtenção de cidadania no país.
Como é o processo seletivo?
Além de requererem um alto investimento financeiro, os cursos de MBA no exterior também demandam um preparo prévio. O requisito básico é o da língua: a maior parte das instituições exige que o candidato tenha sido aprovado em um exame de proficiência no idioma. No caso das universidades americanas e inglesas, os certificados tradicionalmente pedidos são o TOEFL ou o IELTS. Para os países em que a língua oficial é o espanhol, os exames mais exigidos são o SIELE e o DELE. O teste de proficiência em alemão é o Goethe-Zertifikat.
Sair do eixo Europa-Estados Unidos pode ser interessante para estudantes que têm fluência em outras línguas. As universidades asiáticas estão sendo cada vez mais reconhecidas no mercado internacional, principalmente as da China e de Singapura. Um MBA na Ásia pode ser 50% mais barato que os ministrados em solo americano e europeu. Quem opta pelo caminho do Oriente deve fazer o teste HSK, que avalia a fluência no mandarim.
Todos os exames de proficiência têm uma escala de pontuação ou de classificação. Os melhores MBAs do mundo exigem desempenho altíssimo do aluno. No caso do TOEFL, por exemplo, as melhores universidades americanas só aceitam alunos que tenham tido nota superior a 90, de um total de 120.
O Graduate Management Admission Test (GMAT) e o Graduate Record Examination (GRE) são testes que avaliam o raciocínio lógico e verbal do candidato. Embora exijam conhecimentos de matemática e redação, os dois exames servem para avaliar a capacidade do estudante de tomar decisões, desenvolver conceitos e se expressar criticamente. O GMAT, em geral, é mais requerido, mas nos últimos anos importantes universidades passaram a aceitar o GRE em suas seleções de MBA. A lógica é a mesma dos exames de idiomas: quanto melhor a nota, maior a chance de ser aceito.
Além dos testes oficiais, o candidato terá de apresentar seu currículo, cartas de recomendação e pesquisas acadêmicas feitas anteriormente. Uma taxa de aplicação também é cobrada, e pode chegar a US$ 300.
As universidades têm calendários diversos para o MBA. A maior parte dos cursos começa em setembro ou maio, mas algumas instituições têm turmas que iniciam em janeiro e agosto. Os processos seletivos costumam abrir no semestre anterior ao início do curso, mas há “rodadas” de admissão, que vão gradualmente preenchendo as vagas. É sempre bom estar atento aos primeiros prazos, para ter mais chances.
Como financiar meu curso?
Grande parte das universidades oferece bolsas por desempenho ou contexto social. Há também benefícios reservados para estrangeiros. Em todos os casos, é importante que o candidato tenha tido um desempenho excepcional no processo seletivo. Quanto mais concorrido é o MBA, maior será a régua de análise dos candidatos às bolsas.
Para quem não se enquadra no sistema de bolsas, é possível financiar o valor total do curso. As próprias instituições costumam ter bancos parceiros, com juros e prazos especiais para os estudantes, inclusive os estrangeiros. No Brasil, a cultura do crédito estudantil não é tão forte, mas em outros países é muito comum contrair uma dívida para pagar pelos próprios estudos.
Como os juros estão baixos na maior parte dos países desenvolvidos, exemplo de Estados Unidos e Inglaterra, as condições de um empréstimo feito no exterior costumam ser mais amigas que as ofertadas em linhas de crédito brasileiras. Segundo o Federal Student Aid, órgão do Departamento de Educação dos EUA, as taxas de juros para os financiamentos estudantis estão entre 6,6% e 7,6% ao ano. Trata-se de uma taxa mais baixa que à de financiamentos de imóveis no Brasil, categoria que costuma cobrar os menores juros para pessoas físicas.
“Com exceção do estágio de verão (summer internship), que acontece entre o primeiro e o segundo ano de MBA, não há possibilidade de trabalhar durante o curso. Portanto, o candidato precisa considerar a pausa de um ano ou dois anos em que ficará afastado do mercado de trabalho, especialmente em termos financeiros. As escolas esperam que você tenha algum dinheiro destinado a ajudar a pagar a conta, proporcional à sua renda antes do MBA”, afirma Daiana Stolf, da TopMBA.
Há empresas que financiam os cursos de estudantes de alta performance, mas em geral os benefícios são concedidos aos próprios funcionários. Fintechs e plataformas de empréstimos peer-to-peer podem ser uma boa opção, embora os juros tendam a ser maiores que os de financiamento estudantil. As fintechs inglesas Zopa, Funding Circle e Prodigy Finance são conhecidas por terem produtos financeiros específicos para alunos.
Como as empresas enxergam os candidatos que fizeram um MBA no exterior?
É cada vez mais comum que empresas usem algoritmos para avaliar a base de currículos para uma vaga. Depois dessa primeira etapa, as características prioritárias para a escolha dos novos funcionários serão verificadas de outras formas: a maneira como o candidato se comporta pessoalmente, suas conexões (network), e como ele age em situações de liderança, ou ao resolver problemas.
É fato que um MBA, principalmente os cursados em boas instituições no exterior, contribui com importantes pontos nos processos de seleção (principalmente nos primeiros passos, em que o currículo é avaliado).
“Trata-se de um carimbo no histórico acadêmico, mas passar por uma boa instituição não é mais garantia de ser aceito pelo mercado”, diz Ricardo Basaglia, diretor da Michael Page, consultoria internacional de recrutamento. Ele lembra o caso de empresas como Facebook e Apple, que deixaram de exigir graduação como um requisito em suas admissões.
A dica, para fazer a melhor escolha e o melhor proveito de um MBA, é entender se ele faz sentido para o que você busca.
Se seu objetivo é mudar-se para o exterior, um curso no país de destino é uma boa porta de entrada. “Nos EUA, todos os formandos têm a possibilidade de trabalhar no país por um ano depois do MBA. No Canadá, esse tempo de permanência legal chega a três anos”, diz Daiana, da TopMBA.
Caso você queira mudar de área de trabalho, ou se seu sonho é trabalhar em uma empresa específica, a dica é usar o LinkedIn a seu favor. “Veja qual é o histórico das pessoas que trabalham em posições equivalentes à que você almeja”, afirma Basaglia, da Michael Page. Avalie o histórico acadêmico, mas também qual é a bagagem profissional das fontes de inspiração.
Mas se o MBA for realmente o caminho das pedras para alcançar um objetivo profissional ou pessoal, o importante é ouvir os especialistas.
Basaglia faz um importante alerta: buscar instituições de baixa qualidade em outros países pode render um resultado pior do que fazer um MBA no Brasil. “As universidades menos reconhecidas não oferecem uma formação completa. O estudante até pode ganhar bagagem, por aprender um novo idioma ou por ter a experiência de morar fora. Mas as empresas têm acesso a um volume grande de informações, e elas sabem quais são os bons MBAs”, diz Basaglia. Ou seja: escolher mal pode ser não só perda de tempo, como também representar muito dinheiro jogado fora. Portanto, escolha com sabedoria.